quarta-feira, 19 de abril de 2017

dez coisas do caralho da minha vida

1 Tenho um neto aos quarenta e cinco anos de idade, sempre quis ser avó cedo, as más línguas vão dizer que influenciei o meu filho e farei o mesmo com ele porque minha vontade maior mesmo é ser bisavó. Pera, tataravó... Depois desses anos todos, de uma vida meio doida e meio sem gracinha, realizei dois grandes sonhos ao mesmo tempo, escrever um livro e ter um neto. Tudo num trânsito de Vênus retrógrado.

2 Apenas hoje em dia, depois de tanto tempo errando nessa vida, pela primeira vez me sinto dona de mim. Com todos os erros e disfunções que fazem minhas melhores qualidades. Nem feia nem bonita nem gorda nem magra tanto mulher avó mãe filha tia sobrinha neta. Bruxa perdoada, poderes recuperados e o próprio clã.

3 Este é meu sonho maior, eu quero ser amada de verdade. Alguns dizem que isso é possível, continuo teimando. Tinha prometido que não iria amar de novo que nem da última vez, mas estou amando pra cacete, diferentão e também foi no Vênus retrógrado, me julguem.

4 Ainda tenho vontade de adotar filhos, irmãos e crescidos.

5 Eu já disse que nunca mais deixaria de falar com um amigo, havia passado pela terrível experiência de ficar anos sem falar com minha melhor amiga da época. Agora, tem algumas pessoas que eu gostaria de parar de falar e não faço por conta desta promessa. Já tive dois relacionamentos abusivos na vida, examiga e exmarido que me fazem acreditar no conceito de sociopatia. E com essas pessoas não volto a falar. Não sei brincar esse jogo, então nem desço pro play. Ainda assim, afirmo a amizade como o melhor dos meus sentimentos. Aquela que sinto pelos próximos e a fraterna destinada aos desconhecidos. Prática delicada e essencial para que eu me sinta viva e afinada a natureza. 

6 Logo cedo, ao dezessete anos eu comecei a questionar os modelos de relacionamento afetivo porque caiu na minha mão um livreto do Roberto Freire e do Fausto Brito chamado Utopia e Paixão. Aquilo foi transformador e curiosa procurei ler e estudar sobre o que eles falavam, Reich, bioenergética, anarquismo, pedagogias libertárias, sempre tentando romper barreiras dos meus medos e sonhando viver intensamente com autonomia. Ainda estou no caminho de tentativas, erros e acertos. Agora surgiu um desejo novo de estudar terapia reichiana. Será?

7 Conheci todos os meus escritores preferidos, Roberto Freire, Hilda Hilst e a mais querida e amada de todas, Lygia Bojunga Nunes. O encontro com a Hilda foi quase religioso até quando estávamos vendo TV e comentando a novela vigente e fiz um pedido que foi realizado à amendoeira mágica do quintal da casa do Sol. O Roberto Freire confirma a tese de que ídolo bom é aquele que a gente não conhece pessoalmente, tivemos um embate e sentada na curvinha da entrada da pousada em Mauá, cenário e onde ele escreveu a maioria dos livros que devorei sedenta, sentindo o sol bater no meu rosto, saquei que eu tava sozinha nessa e foi libertador. Ainda considero a Lygia uma semideusa e mesmo assim não me sinto privilegiada por ter tido esses encontros, foi ela mesma que me ensinou que do outro lado do escritor tem o leitor e que um não existe sem o outro. Nesses encontros ela também me conheceu e foi tocada por mim. Nós já choramos emocionadas numa tarde de autógrafos e outra vez assistimos uma do lado da outra uma peça de teatro baseada em um de seus livros, onde antes havia palestrado e eu tava sentando bem na frente provavelmente hipnotizada por sua presença. Ela se sentou no lugar vago ao meu lado e num determinado momento da peça colocou a mão sobre a minha e ficou, quando terminou levantamos, sorrimos uma para a outra e fomos embora. Eu alimentava a fantasia de ser citada de alguma maneira em seus livros. Vai ver estou.

8 Sempre acreditei que família a gente escolhe e tenho uma que cresce lindamente. Imagino o futuro com os filhos dos meus amigos tendo filhos como o meu. Nós unidos como somos hoje pelos laços de afeto e amor que sobrevivem as nossas histórias. Uma amiga me descreveu recentemente com perfeição. Eu pulo do kawaii ao perverso na mesma frase. Sou criança e safada. Velha ridícula. Acredito que agora rumo ao fim da vida é que estou predestinada a construir coisas e por isso sempre me incomodou os discursos de prodígios. Sejamos. Não importa a hora, o tempo da vida. Faça o que quiseres e bora. O bom do passar do tempo é que agora não me importo mais em realizar. Que coisa isso. Tem gente como eu que nasceu na boréstia, quer cuidar de planta e bicho, de gente velha e de criança. Não tem alma pra escritório e academias. Eu gostaria de viver mais, brinco que gostaria de mais uns cem anos pela frente, porque a gente tem a possibilidade de ficar melhor e eu preciso de tempo para realizar essas coisas. Se eu morrer não quero ser enterrada, prefiro ser uma árvore, um diamante ou um disco de vinil com a playlist da minha vida. Quando eu era novinha queria casar, depois sonhei com relações libertárias até viver a pior de todas que é o relacionamento abusivo. Nele eu queria ficar velha do lado do ser amado, olhava casais de velhinho na rua e emocionada me espelhava. Quando cai e comecei a levantar percebi que o problema nem era eu ou ele, era o sonho mesmo. Criei um outro, onde minha casa é grande, também sou velhinha e tenhos outros velhes comigo, e crianças e adultos, todos numa enorme mesa cercados de natureza e muitos bichos. Com maresia e marulho. Quero minha vida cheia de gente, quero ver os filhos das minhas crianças nascerem e terem filhos. Ah, sendo uma velha louca e vadia, fato. Sem derrelições.

9 Tenho um lado artístico que algumas pessoas conhecem, sempre foi íntimo e particular, mas desde o ano passado resolvi que vou colocar pra jogo, me expor e dar a cara a tapa. Veio o livro, tem sempre muitos desenhos, tô aí tentando uma coisa de cantar com um amigo e prestes a finalmente montar a minha banda de punk77 com adolescentes. Realizei o sonho de ter um banda quando era ainda uma balzaca e tenho esses gritos em mim. A novidade é que decidi ser uma performer burlesca, há alguns anos que estudo e pesquiso sobre e o desejo de fazer um show, brincar com essa estética bateu forte o tambor e vou encarar! Uhlalá?

10 Tô duranga, manda jobes?




19 abril 2017

2 comentários:

R.M.Huthmacher disse...

Bora lá,escrever, filhota!

Sugestão: junte os mil cadernos/diários ilustrados e coloca na roda!

-Escritora preferida e alguns encontros/ desencontros partilhados...

-Bisavó de seu netinho, filhote do meu neto amado...que é filho da minha filha, idem!

- Quero, também, escrever e viver histórias com e para meus netinhos, bisneto e quem mais

quiser adotar...

- Resolvi colocar um "Y" no meu alter ego... (M Y r i a n) - Interprete como quiser! rsrsrs

- Vou virar os setenta tentando me tornar uma velha e uma pessoa sempre em mutação...

- Para meus netinhos e, agora para o bisneto, continuo sendo a menina MIMI ( que de vez em

quando 'baixa' e se diverte com eles, brinca, briga e, às vezes assusta!... (-não quero

mais a Mimi!... - Quero minha vó de volta!)

- Quero que você ilustre as histórias que pretendo contar para eles!

- Agora vou ter uma nova escritora preferida! (Marcelle Morgan...Lilly Morgana )


PS: Tenho muito orgulho de ser sua mãe!


Raquel da Camara disse...

Gostei muito do texto! Mais ainda por ter conhecido pessoalmente, essa semana, seu neto e perceber sua alegria, seu afago e o amor transbordante de seus olhos 😍👏👏👏♥ Sonhos sendo realizados! Bjs