sexta-feira, 13 de dezembro de 2019

O amor acontece no vôo do pássaro


Sobrevoando os telhados decadentes dos edifícios da cidade praiana o pássaro negro, como uma banshee anuncia em sua chegada, alguém vai morrer! Nunca mais, diz o corvo. Alguém vai morrer, trina a Morgan.

Cada vez que amo novamente eu morro. O pássaro voa, a lágrima vem e tudo o que era certo torna-se ultrapassado. Descobri tardiamente que toda dor vinha da recusa em me transformar pelo acaso do encontro com outra alma irmã. Que tolice!

Quanto privilégio essa capacidade de fazer-me outre que só o amor pode proporcionar quando é despretensioso e incondicional. Me sinto atravessada por raios e águas luminosas. Se o outro é cego, incapaz de vislumbrar  essa força, nunca duvide da capacidade do tempo de ajustar essas mudanças. Teve um dia que Rapunzel reencontrou um dos seus amores aquele primeiro que lhe libertou e chorando lágrimas caíram sobre seus olhos restituíndo-lhe a visão. Olho por olho, dente por dente, alma multidimensional.

Neste dia, em que os contos serão recontado diante da verdadeira visão onde nada, nem ninguém pode ser propriedade de outro.

Jamais amamos da mesma maneira, nevermore, suspira o corvo. Cada coração novo, único e importante, multiconexões onde perda não há e sim transformações dos afetos e da vida vivida a partir deles.

Quando uma nova narrativa é criada, não condena outras aos esquecimento. O que morre é a parte daquilo que não quer mudar e os movimentos do curso engolem no caminho, resignificando-as. 

Marinheiro de últimas viagens nunca tem recomeçar.

Cada novo vôo do pássaro, cada vez que ele chega deve ser comemorado e glorificado sem medo algum. É seu único requisito. Temer desperta seu lado sombrio que põe todo amor a perder, pois ele precisa de festa, exaltação em exagero quanto mais ele cresce em poder.


" Eu te saúdo pássaro irmão! Que a tua presença traga o melhor do cornudo a minha existência."


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