A genetriz da Rapunzel pulou o muro da Jabiraca para roubar alguns raponços, nabos, rabanetes, beterrabas porque sabido eram mais gostosos. Ao ser descoberta trocou por perdão o feto em sua barriga prenhe.
A trança jogada pela janela na floresta de prédios balança ao vento. Rapunzel canta abafada pelos sons de automóveis passando, roncos buzinas motores e música amplificada no eco das ruas.
Ninguém ouve Rapunzel cantar nem repara nas tranças lançadas tal convite e desespero solitário. Dia após dia, ninguém a lhe pedir as tranças.
Ela canta. Penteia os cabelos. Joga suas tranças, ninguém repara. Nem mesmo alguém ouve seu canto.
Presa na torre, ouvindo o trinado das ruas esperando que o dia acabe e a noite caia silenciosa para recolher os cabelos retirando deles a passagem do tempo, coisas largadas, levadas ao vento e preso nas amarras da rede trança. Faz deles coleção... Folhas, canudos, penas, coisas...águas, humores da cidade. Um amontoado deles no canto da alcova contam histórias do passar dos dias.
Dedos dedilhando harpa desembaraça os fios longos, enormes, um banquinho rente ao chão sentada ela canta separando os fios que caídos ficaram presos pela trança.
Penteia, separa, perfuma, trança.
Rapunzel observa a luz emoldurar sua parede, a janela alta, uma varanda curta, a grade de ferro separa o dentro de fora a vegetação cerrada filtra a luz. O pequeno broto de salsa uma floresta se tornou feito muro. Ela pode ver quase nada. Ouve a cidade amanhecer. Aquele espaço no tempo da repetição.
Recentemente tem ouvido um piano de harmonia e afinação aprendiz. Repetindo o mesmo acorde que infinito ressoa nas edificações. Nada muda. Só o tempo.
Trovões ou batidas de carro estendidos no tempo em uníssono o passar dos dias.
Trancada por alguém naquela torre, fatal destino. Será a feiticeira ou sua mãe sob as ordens de seu pai? Príncipes são modelos de contentamento.
Apenas suas tranças atravessam o espaço das grades.
Ela joga. Anseia. De novo.
Canta acompanhando o piano. Volta a pescar. Joga a trança. Espera.
Aguarda. Anseia. De novo.
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